Voltando a Paris
Inesperadamente, acabei voltando a Paris esse mês, depois de 11 anos sem passar por lá. Que surpresa grata e deliciosa, vamos passear por lá?
Tema do mês: meus dias em Paris
Depois de 11 anos, voltei para Paris, e foi muito emocionante. Assim que desembarquei do trem senti uma felicidade inexplicável. Incrível como depois de tanto tempo, essa cidade, mágica, ainda mexe tanto comigo. Sou fiel a teoria de que clichês não são clichês por acaso. Impossível não se apaixonar por Paris. A cidade vibra amor, beleza e principalmente, comida.
Paris nem estava nos planos, mas a vida nos deu um empurrãozinho. Tínhamos duas semanas entre a semana de Design de Milão e o IF Design Awards em Berlin. O plano era passar uma semana em Portugal, com meus pais e a outra em Londres, onde a irmã mais velha do Antonio mora, com os nossos dois sobrinhos. Acabou que eles estavam no Brasil nessa época, mas cogitamos ir para Londres mesmo assim. Mandei mensagem para um casal de amigos nosso da escola que moram lá, (sim, minha série formou muitos casais), perguntando se eles estariam lá. Ela respondeu que iam pra Paris visitar o irmão dela, e falou para irmos também. Era só isso que precisávamos. Olhei passagem, que estava com preço bom, fechamos hotel e embarcamos para passar 3 dias em Paris. Depois de um voo rápido de duas horas, chegamos no Charles de Gaulle. Pegamos o trem no aeroporto e, uma hora depois, estávamos no coração de Paris.
Chegamos por volta das 17:00, fizemos check-in, tomamos banho e nos arrumamos pro jantar. Um outro casal de amigos também estava lá, e tinha marcado um restaurante para nossa primeira noite. Geralmente cabe a mim marcar todos os restaurantes em viagens, até brinquei que foi uma delicia ver alguém tão empenhado quanto eu no assunto comida.
Chegamos no Bistrot d'Henri as 20:00 depois de uma caminhada de 15 minutos do hotel. Uma das minhas coisas favoritas em Paris é sair andando por ai. A paisagem vai mudando, mas é sempre lindo.
Encontramos nosso casal de amigos da escola, que apesar da distância tem um lugar pra lá de especial no meu coração. Eu falo com a Claudia que podemos passar meses sem se falar, mas quando nos falamos é como se tempo nenhum tivesse passado. A Claudia, minha amiga, se mudou algumas vezes na infância, e apesar de nunca falarmos sobre isso, acho que temos muitas coisas em comum por conta disso. Fomos criadas de maneiras parecidas e dividimos muitos valores. Ela me conhece no fundo da alma, e com ela eu rio como se tivesse 12 anos de novo. Como é leve e confortável passar tempo com ela… Já o Gabriel foi da minha sala todos os anos que morei no Brasil, fizemos peça da escola juntos, éramos da mesma banda e até fomos “líderes” juntos do nosso House (tipo House do Harry Potter sabe?). Além de ser o gênio da série, Gabriel, assim como a Claudia, tem um dos corações mais lindos que eu conheço. Nosso laço de amizade transcende o tempo e isso não tem preço - mais um ponto para essa viagem tão emocionante.
Voltando ao Bistro d’Henri, o restaurante fica no coração de St Germain, é pequeno e sentamos em uma mesa do lado da porta. Toda vez que alguém entrava e saia, sentíamos o ar gelado lá de fora entrar. O sofá era de veludo vermelho e as paredes cheias de quadros. O restaurante é antigo e carrega um ar aconchegante com uma iluminação suave. Fomos atendidos pelo que parecia ser o dono do restaurante. Fazia 11 anos que eu não ia a Paris e tinha certeza de que não conseguiria falar nada. Estava errada, que alegria. Pedi o Blanquete de Veau, um prato que eu amo e nunca como. Me indigna um pouco que Coq au Vin e Bourguignon façam tanto sucesso mundo afora, enquanto o blanquete de veau, (talvez meu favorito dos três), muitas vezes não é nem conhecido. Não me entendam mal, eu amo tanto o bourguignon quanto o coq au vin, só considero o blanquete, um injustiçado. Estou testando umas receitas e em breve posto para vocês. A do Bourguignon vamos ter na aula “Pratos para Receber” no Roti na Prática esse mês (link aqui).


Até mesmo em Paris, nem tudo são flores, apesar da experiência que vou relatar a seguir não ter sido das melhores, o prato merece menção honrosa e receita. O Bistrot Paul Bert fica no Marais na Rua Paul Bert. Paris tem essa “tradição” onde certas ruas viram nome compostos de praticamente todos os estabelecimentos que você encontra nelas. No caso da Rua Paul Bert, temos o Bistrot Paul Bert, o Le 6 Paul Bert, La Cave du Paul Bert e por ai vai. Quando eu morei em Paris em 2013, fui no Le 6 e amei. Dessa vez, um dos nosso amigos estava avido para ir no Bistrot Paul Bert.
Tentamos, sem sucesso, ligar para reservar diversas vezes, eu sozinha devo ter ligado mais de 15 vezes, sem exageros. Fomos na cara e na coragem. Entrei logo depois de duas amigas a tempo de ouvir a negativa do garçom - impossível sentar seis pessoas sem reserva. Explicamos que tínhamos tentado reservar diversas vezes e que eles se quer tinham atendido o telefone, perguntamos se existia alguma maneira alternativa para a próxima vez. Ele retrucou que são mais de quinhentas ligações por dia e que seria impossível atender todas. Para ser sincera, fomos meio maltratados. O garçom tinha um ar soberbo, parecia estar debochando da gente, e apesar do restaurante não estar nem perto de lotado, ele não nos deixou nem colocar o nome na lista de espera. Sugeriu que fossemos no restaurante ao lado, que ele disse ser do mesmo dono, só que de frutos do mar. Lá, encontraríamos o icônico Steak au poivre que era o carro chefe do Bistrot e por isso, ofereciam lá também.
Estávamos cansados depois de um dia batendo perna e com muita fome. De fato, éramos um grupo grande, o que não melhorava nossa chance de conseguir mesa em outro restaurante, sentamos no restaurante ao lado. O restaurante era grande, com ar meio pomposo. A madeira do chão e das paredes era escura e as poucas mesas que estavam ocupadas sussurravam delicadamente. Olhamos tentativamente o cardápio, mas no fim, praticamente todos pediram o icônico Steak au poivre. O prato estava uma delicia. O molho picante e cremoso na medida certa. A carne no ponto ideal e as batatas fritas crocantes. Não tenho nada a falar sobre a qualidade do prato, mas o atendimento pesou sobre mim a noite inteira e fez minha experiência ser aquém do imaginado. Terminamos o jantar uma hora depois e encontramos o restaurante ao lado ainda mais vazio do que estava quando tentamos sentar, lá por volta das 19:30. Ficou uma certa injustiça no ar, afinal, ninguém gosta de se sentir mal tratado. Nesse caso, nem mesmo a comida foi capaz de nos fazer esquecer.
O que importa agora é que esse ícone delicioso merece ser recriado em nossas casas. Por isso, aqui vai a receita dessa iguaria.
Receita: Steak au poivre
A pimenta aqui é a estrela do prato então precisamos de uma quantidade considerável para dar o sabor clássico ao molho. Gosto de usar um pilão para moer os grãos e deixa-los mais rústicos, mas vocês também podem colocar em um saco e amassar com a base de uma panela. Usar o moedor também funciona, mas o grão fica um pouco mais fino.
Ingredientes:
1 colher de sopa de azeite
2 medalhões
Sal a gosto
1-2 colheres de chá de pimenta do reino (moída no pilão de preferência)
1 colher de sopa de manteiga
1/4 xícara de conhaque
1 xícara de creme de leite fresco
1 colher de chá de pimenta verde
Passo a passo:
Tempere a carne com sal e pimenta do reino,
Esquente bem a frigideira com azeite e adicione a carne,
Doure em fogo médio alto por aproximadamente 2-3 minutos,
Vire e doure do outro, depois sele as laterais da carne rapidamente,
Junte a manteiga e regue os medalhões com a manteiga,
Reserve a carne e, na mesma panela, junte o conhaque e deixe reduzir bem, agora em fogo médio,
Quando tiver mais ou menos 2 colheres de sopa de líquido, junte o creme de leite,
Tempere com sal e junte a pimenta verde,
Prove e ajuste o tempero,
Volte com a carne.
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Oi Juliana,
Muito “confortante” ler o seu relato! Acho Paris linda, tive uma experiência incrível em levar minha filha para conhecer pois era o sonho dela. Mas tive algumas experiências como essa que você relatou do restaurante que me fez sentir tão “inadequada” em ser turista na cidade mais turística do mundo, que dificilmente voltarei. Espero esquecer rsrs
Continue escrevendo pois dá um prazer enorme a quem chega aqui! Abs, Cecília